A indústria de hoje não está preocupada em fortalecer a cena musical ou criar um espaço saudável para os músicos.
O gráfico mostra que a receita da indústria musical, quando ajustada pela inflação, permaneceu estagnada nos últimos 50 anos. O poder do mercado foi entregue nas mãos dos tecnocratas. E o que chamávamos de “receita musical” parece ter se tornado receita para engordar empresas de tecnologia que não estão preocupadas com o ambiente da música.
E é por isso mesmo que defendo a tese do artista criar seu próprio ecossistema e, se conseguir, se tornar ele.
Empregar sua narrativa de maneira que o fã suspenda a descrença, assim como sugeriu o filósofo estético Samuel Coleridge em 1817. Ele defendia que essa suspensão permitia ao público aceitar o impossível como real dentro da obra, tornando a experiência, digamos, mais imersiva.
Veja que essa ideia é mais elaborada do que simplesmente dizer: “seja autentico”, “seja você mesmo”, “branding”… É mais sobre “seja seu nicho”, como fala Elton Luiz.
Emanar uma aura que seja impossível de ser ignorada.
Sobretudo porque você é artista e vive no Brasil, as pessoas aqui esperam por isso. Temos a característica de cultuar artistas que possuem essa aura “irresistível”.
Bruno Mars sacou essa brecha quando publicou em suas redes sociais diversos vídeos ao som do funk brasileiro, vestindo a camisa do Brasil (com “S”), abraçando um cachorro caramelo, e cantando jargões como: “cadê as popozudas, caralh*?”, “faz o quadradinho” e “desce até o chão, esse é o bonde do Brunão”.
Vincent Martella, o Greg da série “Todo mundo odeia o Chris”, viralizou por aqui quando publicou uma foto na internet vestindo uma camiseta que dizia “Eu sou famoso no Brasil”. Alguns dias depois ele estava no programa de TV “The noite” e atingiu a marca de 2,4 milhões de seguidores no Instagram.
E o exemplo mais recente foi a rapper Doechii, vencedora da categoria de Melhor Álbum de Rap do Grammy 2025. Ela disse “Então, meu primeiro objetivo, que escrevi em minhas anotações, é ter um dia ensolarado no Brasil, andando de bicicleta, conhecendo um pouco a cidade e as pessoas. Quero ser FLUENTE EM PORTUGUÊS e ir ao Brasil com frequência”.
Bom, espero que tenha ficado claro como os artistas norte americanos têm explorado o mercado do “culto” brasileiro a partir da construção de sua aura.
Mas como te dizer isso…
Cuidado para não se tornar um produto de si mesmo, sua música é a parte mais importante. Seja sincero com você e com o seu público neste aspecto - eu diria para você ser sincero sempre, mas essa escolha é sua.
Procure ter em mente que as pessoas não são bobas, então, quando chegar a hora de você ser espremido pelo público como uma laranja, o que sairá de você é o que você tem por dentro.
“Conhece a ti mesmo”, diria Sócrates.
Quem é você? O artista maluco? Intelectual? Cristão? Subversivo? Quem sabe o gênio incompreendido? Se encontre primeiro para que outras pessoas também possam te encontrar e se identificar contigo.
Parece um papo profundo, e é! Até porque - imagino eu - que você quer fazer história com sua arte e não uma panela de miojo.
Entretanto, espero que essa não seja mais uma informação que servirá para te paralisar. Dê o primeiro passo enquanto estuda e se auto-analisa no objetivo de construir sua aura de artista. Começar criando conteúdo, independente da rede social, pode ser um ótimo primeiro passo para fazer girar as engrenagens da criatividade.
Eu disse “rede social”, mas minha principal fonte de criatividade e desenvolvimento são os livros e meus cadernos. Neles eu escrevo tudo o que se passa na minha cabeça.
A partir disso, maturo a escrita e crio conexões com o tempo, que geram textos para minha newsletter, postagens, movimentos criativos na mixagem e etc. E assim construo minha “aura de artista”.
Note, eu desenvolvi meu método para fazer a “engrenagem girar”, tudo o que vem depois disso é consequência, ou seja, postagens nas redes, mixagem, textos e etc.
Por fim, se você é músico, ficaria feliz em escutar suas músicas e conhecer melhor seu trabalho. Os portões estão abertos e o terreno é sólido para construção.
Espero que essa newsletter, assim como as outras, inspire você a se desenvolver a partir do seu próprio método. Tenha coragem para arriscar, ninguém perde o que ainda não tem.